RUA FORMOSA
A
Rua Formosa, hoje Rua Tenente Coronel Cardoso, já existia em 1795, segundo
revela o escritor Júlio Feydit (pag. 280). No capítulo dos primeiros
calçamentos da cidade, cita “(...) fez a
Câmara o primeiro calçamento da Rua dos Mercadores, Direita que, em ato de
vereação de 16 de Novembro de 1882, passou a se chamar 1º de Março e, em 15 de
Maio de 1888, por proposta do vereador Ezequiel Sampaio passou a denominar-se
13 de Maio, para comemorar a data de libertação dos escravos no Brasil (...)”.
Ele
faz menção à Rua Formosa: “Os nossos
antepassados, sempre previdentes, procuravam evitar que a Vila fosse surpreendida
pelo caudaloso (rio) Paraíba, como e provável que os modernos o sejam, um dia,
com o péssimo serviço que fez na Rua Formosa, hoje Coronel Cardoso, ficando
esta mais baixa (a rua) oitenta centímetros do que era e sem razão que
justifique essa escavação em uma cidade sujeita às inundações periódicas”.
Hoje não há indícios de que esteja em desnível...
Feydit
(pag. 230), sobre o Campo do Furtado, diz que “(...) No terreno do Campo do Furtado se acham hoje as Ruas de São Bento
(Barão de Miracema), parte da Rua Barão do Amazonas, a Rua da Constituição
(Avenida Alberto Torres) no espaço compreendido entre a Rua do Propósito (atual
Gesteira Passos) e Rua Voluntários da Pátria, Rua Formosa desde a dos
Voluntários até a do Sacramento (Rua Lacerda Sobrinho), Saldanha Marinho até a
Rua São Bento (Barão de Miracema), tendo no centro a Praça Azeredo Coutinho, as
Ruas Salvador Correa, Benta Pereira, Gil de Gois, que se denominava Rua das
Cancelas e parte da Avenida Visconde do Rio Branco (...)”.
A
historiadora Sylvia Paes, do Instituto Histórico e Geográfico de Campos dos
Goytacazes, lembra: “Em 1911 quando em
visita a cidade, Oliveira Botelho, presidente do Estado do Rio de Janeiro
(antiga nomenclatura do governador), em companhia do ministro da Agricultura,
Pedro de Toledo, disse que ela não tinha aspecto condizente com a sua riqueza.
Os usineiros, que eram cultos e haviam estudado na Europa, em sua grande
maioria, estabeleceram um imposto de 2,5% a ser cobrado sobre tudo que viesse
do nosso solo. O dinheiro foi investido na reformulação do espaço urbano. As
Ruas Sete de Setembro, João Pessoa, Tenente-Coronel Cardoso e 21 de Abril foram
alargadas. A Avenida Alberto Torres retificada. O projeto paisagístico da Praça
do Liceu e Jardim São Benedito também é desse período. Após cinco anos, o
presidente da República, em visita a Campos, inaugura as benfeitorias,m tendo o
Obelisco como assinatura desses cinco anos de progresso arquitetônico., É como
se a construção do monumento tivesse durado os cinco anos que ele representa”.
Tetê
Peixoto, em Campos dos Goytacazes nos
anos 1870-1880: a modernização brasileira e o “mundo citadino”: Em 1875, a sociedade Ferro Carril de Campos
inaugurou o primeiro bonde à tração animal que começou a circular nas
principais ruas da cidade. Primeiramente da Coroan até a Praça São Salvador,
centro da cidade, e posteriormente seguindo o importante eixo que é a Rua Beira
Rio, ligando os dois pontos extremos da cidade, onde se desenvolviam as
atividades industriais, a Coroa e a Lapa, e indo finalmente encontrar as Ruas
Direita, 13 de Maio, Rosário (Carlos de Lacerda), Quitanda (Barão de Cotegipe,
atualmente Teotônio Ferreira de Araújo); e Formosa até o Largo do Rocio. Em
1883, com a presença do Imperador, em sua quarta visita a Campos, inaugurou-se
a primeira central elétrica municipal da América do Sul, pela empresa Brush Eletric Company. Em 1910,
os bondes elétricos foram inaugurados.
No livro “Gente que é Nome de Rua”, Waldir Pinto
de Carvalho (pag. 116-117), registrou o seguinte: “Há uma rua desta cidade, uma
rua de muita importância, cuja longa história não nos cabe contar nesta
oportunidade, que ganhou no passado um apelido. Na verdade, esse apelido se
referia, apenas, a um de seus trechos, de vez que só muitos anos mais tarde
veio a se tornar a via pública que hoje é, servindo como poucas outras a nossa
comunidade. Trata-se de uma rua, que no dizer dos cronistas de épocas passadas,
embora no seu início, fosse feia, recebeu o nome de Formosa”.
Hoje
ela ostenta, e cremos que para sempre, outro nome: Rua Tenente Coronel Cardoso,
referência ao militar Antônio Ribeiro Cardoso (1852-1894), que era pai do Dr. Thiers
Cardoso, célebre autor da música “Marcha
Brasil” que, na vida pública, por várias legislaturas se elegeu vereador,
chegando ao cargo de Vice-Presidente da Câmara Municipal de Campos (...).
Fotografias
antigas do Teatro São Salvador, inaugurado em Sete de Setembro de 1845, que se
localizava na esquina da Rua Direita com Rua Formosa, mostrava que a Rua
Formosa, em 1838, era estreita. E fora alargada, como também a Rua 13 de Maio,
na reforma urbanística de 1911, com a demolição do teatro – o primeiro grande
crime contra o patrimônio histórico e cultural do município.
Hervé
Salgado Rodrigues, no livro “Na Taba dos
Goytacazes” (pag. 263), confirma o fato, o qual chamou de “teatricidismo”
(pedindo desculpas pelo neologismo), referindo-se à demolição do Teatro São
Salvador. Lamento o escritor: “Para um
povo que sempre demonstrou tamanha estima pelo teatro constitui algo acima do
senso comum o permanente espírito vandálico de demolir teatros como acontece em
Campos ao longo de sua história”. Em 1919, demoliu-se o Teatro São Salvador
para o alargamento da Rua Formosa. Era uma relíquia arquitetônica, decorado
pelo pintor francês Cony.
Centro Histórico
O
centro histórico da cidade de Campos dos Goytacazes foi praticamente
consolidado, a partir do Plano Urbanístico do sanitarista Francisco Rodrigues
Saturnino de Brito, planejado em 1902, muito embora as obras de organização
urbana somente tenham sido iniciadas após 1906, como registra a pesquisa da
Dra. Teresa de Jesus Peixoto Faria, no texto “As reformas urbanas de Campos e
suas contradições”.
Ela
cita, em sua pesquisa, que havia, além da reformulação urbanística, a
necessidade de resolver questões d falta de saneamento, responsável pelas
epidemias, como a peste bubônica, que assolou o município, situação agravada
pela grande enchente verificada naquele ano, resultando em inundações, o que
levou o médico Dr. Benedito Pereira Nunes, idealizador da “cidade saneada”, a
observar que, em 1906, nada tinha sido feito com relação ao projeto de
Saturnino de Brito. E fez o seguinte discurso, publicado na Gazeta do Povo,
solicitando a intervenção do Governo Federal:
Em 1901, quando presidia a Câmara
Municipal de Campos, eu disse que, realmente, Campos, doada de uma natureza e
de situação topográficas excepcionais e que poderia ser chamada a Sultana da
Paraíba se transformou, por negligências da engenharia indígena e da edificação
colonial numa cidade de ruas tortuosas, de becos e de ruelas escuras, cheia de
casebres obscuros e insalubres, criando, assim, um ambiente de condições
idênticas às das cidades asiáticas, onde a peste é endêmica. Os velhos casebres
que existem ainda hoje e onde vive a classe operária pagando baixos alugueis,
confirmam este estado de coisas. Atentados flagrantes às regras de higiene,
legitimando de maneira criminosa o direito dos proprietários pouco
escrupulosos, exploradores conscientes dos pobres moradores de casebres úmidos,
verdadeiros pardieiros pagos com o suor das vítimas.
Tetê
Peixoto assinala: E é o próprio prefeito Ferreira Landim que, em novembro de
1906, anuncia, em discurso também publicado no mesmo jornal, no qual fala nas
dificuldades para colocar a arquitetura de suas habitações de conformidade com
os novos modelos em difusão: “O problema
de salubridade das habitações exige, mais do que nunca, a atenção do poder
municipal. É necessário melhorar as condições de higiene das casas, transformar
o sistema de edificações, expurgar a cidade dos velhos casebres, focos de
infecções de toda a espécie – da tuberculose e da peste, principalmente. No ano
passado, fiz demolir nos termos da lei, 45 desses velhos pardieiros e as
enchentes completaram, em parte, esta obra de saneamento (...)”. A reforma
urbana na cidade de Campos dos Goytacazes obedecia, em tese, ao que era feito
no Rio de Janeiro, nos tempos de Pereira Passos, por volta de 1904.
Da
lista de demolições de velhos edifícios, publicados em seu trabalho, que
parecem prejudicar a imagem da cidade constam 32 demolições e foram condenados
16; construíram-se nove casas novas; 18 foram totalmente reconstruídas, e 16
parcialmente; foram feitos 48 grandes reparos e 217 pequenos reparos. E o Dr.
Pereira Nunes, condenou a cidade “velha”, segundo ele, invadida por ratos. E
reafirma que “Campos reclama de medidas como impermeabilização do solo e a abertura
de áreas de circulação”,
No
documento, a pesquisadora salienta (...) O velho tecido urbano é transformado,
progressivamente, graças às reformas que visam, além do embelezamento da
cidade, dar-lhe uma melhor funcionalidade, adaptando-a aos interesses da
economia capitalista e da burguesia em plena ascensão. Finalmente, neste começo
do século XX, é necessário dotar a cidade dos símbolos do progresso e de uma
imagem de modernidade.
E
ele descreve algumas mudanças operacionalizadas com as reformas do Plano
Saturnino de Brito: “As Ruas: 21 de Abril, Sete de Setembro, Constituição (Rua
Alberto Torres) e Formosa (Tenente Coronel Cardoso) foram alargadas; a antiga
Praça das Verduras (Praça do Chá-Chá-Chá) foi urbanizada e transformada em
praça de lazer; a Praça São Salvador, já com belo jardim, é ornamentada com uma
fonte, os edifícios se renovam como o Renne, o Café High-Life,m Bom Marché e
novos edifícios surgiram, como o do Banco do Brasil (1910), Associação
Comercial de Campos (1913), Correios e Telégrafos e sede da Lira de Apolo
(1917) e o antigo Teatro Trianon (1921). Desses citados, somente sobreviveram o
Renne (com mudanças nos anos 50) e a Lira de Apolo (ora em restauração).
Hoje,
o conjunto de obras ecléticas, o maior do interior do Estado, praticamente está
restrito às Ruas: 21 de Abril, Santos Dumont, Teotônio Ferreira de Araújo
(antiga Barão de Cotegipe), Praça do Santíssimo, Sete de Setembro, 21 de Abril,
Avenida Rui Barbosa, Rua 13 de Maio (antiga Rua Direita) e Rua Formosa (Tenente
Coronel Cardoso), embora existam outros espécimes da época espalhados por
outras artérias da cidade, atingindo até bairros mais distantes e em alguns
distritos, como Goytacazes, Dores de Macabu, Murundu, Santa Bárbara, Vila Nova,
Morro do Coco, Santa Maria e Santo Eduardo. Só para citar alguns...
O
centro histórico de Campos é, com outros avanços ocorridos nos anos 40, por
intervenção da empresa Coimbra Bueno, nos tempos áureos do Prefeito Salo Brand,
que era engenheiro, o que estabelece a Lei (Plano Diretor) 7.972, de
30/03/2008, quando se inicia, embora tardiamente, a se adotar uma política de
preservação do patrimônio Histórico e Cultural do Município, cuidando de suas
instâncias materiais e imateriais.
Inventário em: 22/03/2015
Fotografia: Valdimir da Silva
Salino
Responsável: Orávio de Campos
Soares
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